O capitalismo e
o Advento de uma sociedade de consumo
Camila
Fernandes - Colégio Mãe de Deus – T. 301
Resumo: A condição da
redução do cidadão em consumidor, e a criação de tal cultura global, deram-se
através do ciclo vicioso produtivo gerado pelo surgimento do capitalismo. Tal
sistema, para existir, necessita de um mercado que o mantenha e o renove. Logo,
a sociedade capitalista em surgimento criou o mito do consumo como sinônimo de
bem-estar e meta prioritária do processo civilizatório, obtendo os alicerces
necessários para a sustentação de todo o sistema e criando as bases para a
formação de uma sociedade baseada no consumo.
Palavras-chave: capitalismo –
sociedade de consumo – ciclo vicioso – cidadão consumidor
Introdução
O capitalismo é
um sistema econômico caracterizado pela acumulação de recursos financeiros e
materiais. Seu inicio deu-se na Europa com a transferência do centro da vida
econômica social e política dos feudos para a cidade. Logo ocorreu um processo
de monetarização. Onde antigamente as relações de compra e venda era baseada na
necessidade dos indivíduos, começou a existir uma prática comercial baseada no
valor de troca ao invés do seu valor de uso, estimulando uma economia que, gradativamente,
começou a ser baseada em valores numéricos relativos a mercadorias.
Esta prática
levou ao surgimento de uma sociedade capitalista baseada no consumo. Contudo,
para que isto acontecesse foi necessária a criação de uma cultura presente em
cada pessoa e na comunidade internacional como um todo. Deste modo, o sistema capitalista
utilizou-se de vários artifícios que culminaram em nosso atual modelo econômico
e estilo de organização social.
Assim sendo,
esses itens foram imprescindíveis para a nossa formação atual. Por isso,
pretendo analisar essas primeiras fases compostas por esses elementos do capitalismo
em ascensão que, ao longo do tempo, levaram ao surgimento de um caráter
consumista em todos os componentes da sociedade contemporânea. V. 1 Nº 1,
Setembro, 2010.
O surgimento do
cidadão consumidor
A sociedade
baseada no consumo em grande escala não
surgiu de repente. O seu
surgimento foi um longo e demorado
processo e deu-se devido uma sucessão de fatos que, ao se acumularem,
propiciaram seu surgimento ao longo da história. O termo sociedade de consumo é
usado para designar uma sociedade que se encontra numa avançada etapa de
desenvolvimento industrial capitalista e que se caracteriza pelo consumo
massivo de bens e serviços, disponíveis graças a elevada produção dos mesmos.
Esse surgimento deu-se com o surgimento do capitalismo.
A acumulação
primitiva de capital retirou a propriedade privada dos camponeses e colocou nas
mãos da burguesia em ascensão. Esses camponeses transformaram-se em
trabalhadores assalariados e disponíveis
a uma burguesia, que com o fim do absolutismo
detinha o controle dos meios de
produção. O contexto da revolução industrial, por volta de 1760, e a passagem
do capitalismo comercial para o industrial deram início ao processo de
agilização da produção e fizeram com que fosse possível, em 1914, o surgimento
da primeira linha de montagem automatizada e a produção em grande escala.
O aparecimento
do capitalismo fez com que surgisse uma peça fundamental em sua existência, o
cidadão consumidor. “A natureza própria do capitalismo exige, para sua
sobrevivência, acumulação e investimentos crescentes.” (COSTA LIMA, 98)
Necessitando de tais aspectos, os capitalistas estimulam o processo de produção
e de consumo. Com uma maior produção, o mercado tem de absorver essa demanda.
Para isso, eles utilizam artifícios –como a publicidade, a mídia, o fenômeno
atual dos shoppings centers, entre outros – para estimular a venda de seu produto,
terminando um ciclo de vendas e iniciando outro de produção.
Então, o cidadão
consumidor foi o meio encontrado pelo capitalismo para que o
contingente de produção fosse absorvido.
Logo, este se tornou o elo entre o novo ciclo da produção e o ciclo do consumo,
gerando um só ciclo: o ciclo vicioso do mercado capitalista.
Contudo, o
consumo exacerbado – característica do capitalismo atual – não existia no
início das sociedades capitalistas. Para que esta se desenvolvesse e atingisse
seu estado atual foi necessária a criação de um mito, o mito do bem-estar
através do consumo.
O mito do bem-estar através do consumo
Com a
necessidade de fazer o mercado girar, e atingir níveis antes não imaginados, a
sociedade capitalista criou o mito do consumo como algo bom e imprescindível
para os cidadãos. Para isso, a capacidade aquisitiva se tornou um meio de
classificar as pessoas, bem como a quantidade e a qualidade do que estas
consomem. V. 1 Nº 1, Setembro,
2010.
No momento em
que o consumo se torna a base da divisão populacional, consumir tornou-se uma
forma de prestígio social. Então, ao consumir algo pertencente a uma classe
superior as pessoas sentiam-se felizes e incluídas na sociedade. Desse modo,
foi criado o mito do consumo e a principal característica do capitalismo: a
obsessão por este consumo.
Logo, a lógica
capitalista de produção voltou-se para atender as supostas necessidades do
consumidor e estimular suas necessidades artificiais para promover uma
rotatividade e acumulação do capital investido. É importante perceber que o
sistema capitalista de produção que supre as necessidades dos cidadãos é o
mesmo que as cria. Através de métodos de competição entre os consumidores, da
publicidade e do marketing, ele faz com que tenhamos o desejo de consumir cada
vez mais produtos, muitas vezes supérfluos.
Com um aumento
populacional, houve um aumento significativo no consumo,
principalmente nas últimas décadas. Com a globalização, as empresas puderam se
expandir, oferecendo mais produtos e ampliando o seu alcance. O aumento da
estrutura capitalista facilitou as relações comerciais entre os países.
Contudo, a base de sustentação do capitalismo, e de todas as relações nele
envolvidas, continua a mesma: a rotatividade e a manutenção do mercado.
O ciclo vicioso
do mercado
O capitalismo
possui um ciclo rotativo. Ao consumirmos um produto estamos
exigindo que o produtor deste aumente
sua demanda. Ao aumentarmos a demanda de
produção de determinada fábrica ou
indústria estimulamos o surgimento de novos empregos, o aumento de salários,
entre tantas outras conseqüências. Um maior número de trabalhadores com um
salário melhor, que consequentemente se transformarão em consumidores, fazem
com que o ciclo do consumo se inicie outra vez. (BUENO, 2008). Por isso, o surgimento
do cidadão consumidor foi tão importante para a rotatividade do mercado, pois é
ele quem a recomeça todas as vezes que esta se completa. Consequentemente, a renovação
do mercado se tornou indispensável para que a economia se movimente e que os
países se desenvolvam. O modelo da sociedade de consumo está tão enraizado na
sociedade contemporânea que algumas pessoas chegam a afirmar que ele é
irreversível.
Irreversível ou
não, uma sociedade baseada no consumo possui uma grande instabilidade. A queda brusca
do consumo pode fazer com que muitos países entrem em crise devido à alta
demanda e pouca procura. Ao mesmo tempo, a alta procura pode fazer com que os
níveis inflacionários de um país cresçam vertiginosamente, atingindo todos os
setores da população. V. 1 Nº 1, Setembro, 2010.
Apesar de todas
as falhas existentes no sistema capitalista, o ciclo vicioso do mercado é seu
principal alicerce. Não é à toa que o capitalismo viu fracassar inúmeros
modelos político-econômicos cuja base de rotatividade de seu mercado não fosse
tão necessária e presente em todo o sistema. Portanto, a consolidação deste
ciclo foi o último passo para que surgisse uma gigantesca sociedade baseada no
consumo.
Considerações
Finais
Na realidade
capitalista tornou-se imprescindível a existência de diversos setores
consumidores na população, visto que o
cidadão consumidor é a principal característica da sociedade como um todo.
Atualmente, a melhor maneira encontrada para “alimentar” esse mercado foi
através da globalização. Através da globalização, conseguimos nos relacionar com
pessoas do mundo inteiro e, ao mesmo tempo, consumir produtos do outro lado do
planeta utilizando artifícios tão comuns nos dias de hoje como a internet.
Pelo cidadão
consumidor, o mercado capitalista conseguiu expandir o seu alcance. Isso fez
com que as relações mantidas para a manutenção do mercado – o ciclo
produção/mercado/consumo/produção... – se fortalecessem e que hoje se tornassem
um ciclo vicioso sem meio, início e fim. Afinal, tudo faz parte do grande sistema
capitalista em que vivemos e da sociedade contemporânea de consumo existente,
onde o consumo e a produção são apenas uma pequena parte de todo o sistema.
Com o surgimento
de principais alicerces, surgiu esse modelo de sociedade e todas as relações
nela envolvidas. As discussões sobre suas conseqüências e a quem este tipo de
sociedade beneficia já causaram muitas brigas. Entretanto, o fato mais
importante a ser destacado, ao invés de classificar a sociedade como boa ou má,
é a criação do cidadão consumidor. Mérito ou não das pessoas que o idealizaram,
ele foi o principal ponto do surgimento do capitalismo e, por conseguinte, da
sociedade de consumo e que perdura até os dias de hoje com uma relevância tão
grande quanto possuía antigamente.V. 1 Nº 1, Setembro, 2010.
Referências
BUENO,
Chris. A insustentável sociedade de consumo. Com Ciência: Revista Eletrônica de
Jornalismo
Científico, São Paulo, n. 99, p.1-3, 10 jun. 2008. Mensal. Disponível em:
<http://www.comciencia.br/comciencia/index.php?section=8&edicao=36&id=429>.
Acesso
em:
03 mar. 2010.
FEATHERSTONE,
Mike. Cultura de consumo e
pós-modernismo. São Paulo: Studio
Nobel,
1995. 201 p. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=15__7hPkpIEC&printsec=frontcover&dq=Cultura+de
+consumo+e+p%C3%B3s-modernismo&hl=pt-BR&ei=zpHTP2PCcGC8gbWyrDoAQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CC0Q6A
EwAA>.
Acesso em: 05 abr. 2010.
LIMA,
Gustavo F. da Costa. Consciência Ecológica: emergência, obstáculos e desafios.
Política
e Trabalho, Paraná, p.139-154, 05 set. 1998. Semestral. Disponível em:
<http://www.cefetsp
Nenhum comentário:
Postar um comentário